JValdomiro
A saudade é como o perfume da brisa, que acaricia nosso rosto e depois vai embora sem dizer adeus.
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A FORÇA DO AMOR


    Às vezes o destino estende suas teias invisíveis transformando nossos planos, e quase sempre histórias que poderiam ter um final dramático e de uma hora para outra tudo se transmuta no mais belo livro que um escritor anônimo já escreveu.
     Vancouver, Canadá, Região do Lower Mainland a segunda cidade mais linda do mundo, conhecida pelo seu encanto natural, localizada próxima do oceano e das montanhas.
Foi nesse paraíso mundialmente conhecido pela à sua qualidade de vida que, Liam Brady, veio morar, filho de imigrantes britânicos, chegou no Canadá aos 10 (dez) anos de idade, quando os seus pais resolveram tentar a vida em outro país. No início tudo foi bastante árduo, chegou a dormir nos bancos da estação do metrô, agasalhado apenas com um velho cobertor que alguém lhe dou, mas, não desistiu foi atrás dos seus sonhos. Depois algum tempo começou trabalhar para ajudar a família, vendendo newspaper (jornal) nas frias ruas de Vancouver. Nas horas vagas ficava no Stanley Park, o melhor da Europa, lendo os exemplares que não foram vendidos antes de devolvê-los a newspaper distributor (distribuidora de jornais), aos 15 anos, o seu desempenho foi reconhecido como sendo um dos melhores newsboy (jornaleiro) da área e recebeu um convite para ir para uma newsstand (banca de jornais), onde passou a ter acesso às publicações mais importantes da época: livros; jornais; revistas; tabloides e tantos outros do gênero, o que lhe permitiu cada vez mais ampliar os seus conhecimentos, sempre que era possível se dedicava a leitura dia e noite se tornando modelo na arte de vendas do setor, tal performance lhe rendeu um prêmio especial, convidado que foi para desempenhar às suas funções em uma das maiores Newspaper (editora), da localidade, começava ali a trajetória de um dos mais talentosos escritores de seu tempo.
     Aos 25 anos, já era destaque na imprensa local e teve a grande oportunidade de sua vida, escrever uma coluna como crítico literário em um dos mais importantes meios de comunicação escrito de Vancouver, o The Globe and Mail, jornal de grande circulação, contemplando todas as camadas sociais. Que permitiu ao jovem, Liam, uma posição de destaque nos meios jornalísticos local.
    No entanto, no ápice do sucesso sofreu um revés que poderia ter sido fatal para ele, a âncora que norteava seus caminhos, seus pais, sofrem um grave acidente automobilístico e vem a falecerem e tudo é modificado na caminhada do jovem talento, naquele momento para ele viver já não era tão significativo largou tudo que tinha conquistado e enveredou pelos caminhos do álcool, e posteriormente das drogas, abandonou o emprego e chegou ao fundo do poço.
   Nada mais tinha sentido para ele, certa noite foi encontrado inconsciente no local onde tudo começou, o Stanley Park, mas uma vez estava drogado, tinha tomado uma overdose. Estava praticamente vivendo seus últimos momentos, mas Deus tinha outros planos para Liam à sua hora ainda não havia chegado. Foi conduzido imediatamente para o Vancouver General Hospital, acometido com uma parada cardíaca de natureza grave quase que irreversível, após várias tentativas conseguiram reanimá-lo, seus olhos azuis cintilaram no ambiente e se encontraram com os Drª. Hannah Sánchez que chefiava à equipe médica.
   Foram quase seis meses de intenso tratamento, para alguns parecia que era impossível salvar a vida de Liam, tal a gravidade do seu estado de saúde, mas enfim a Drª. Hannah e à sua competente equipe conseguiram ressuscitá-lo. Agora restava a parte mais complexa da recuperação total de Brady, que seria à sua mente, fazê-lo acreditar que poderia recomeçar tudo outra vez, mais já não era somente os procedimentos médicos, agora dependeria exclusivamente dele e de mais ninguém.
   Estava quase adormecendo, quando recebeu a visita da Drª. Sánchez – e aí meu herói, como está se sentindo, Liam, abriu os olhos e se deparou com a visão mais linda que tinha visto na sua vida até então, a beleza de Hannah, fascinava qualquer um, seus olhos verdes era um contraste perfeito com os seus cabelos pretos e sua pele cor de jambo, ele logo respondeu – estou bem Drª., estava aqui pensando como irei reconstruir tudo que perdi, o meu castelo de sonhos que um dia edifiquei, desmoronou e se foi levado pela tempestade que devastou à minha existência. – Calma, Liam, você superou a fase mais crítica desse tornado, que é de está vivo, portanto pode recomeçar tudo outra vez, não vale a pena lembrar mais do passado ele se foi, a partir de agora viva o presente pois, só ele pode reparar os danos que lhe foi causado. Pense numa coisa; a única pessoa que pode lhe fazer feliz, é você mesmo, e mais ninguém, agora é retomar à sua caminhada para realizar tudo que um dia você projetou para à sua vida. – A manhã lhe farei outra visita, espero encontrá-lo melhor, clinicamente você está curado, falta agora cicatrizar o seu interior. − Boa tarde!
    Liam Brady, fechou os olhos e adormeceu profundamente, mas às lembranças continuavam vivas em seu pensamento; às dificuldades na Inglaterra, a decisão dos seus pais de vir morar no Canadá, o sofrimento por que passou nos primeiros meses em terras canadense, sua vertiginosa ascensão laboral que cada vez mais o aproximavam de sua realização profissional e pessoal e pôr fim a fatídica partida dos seus pais naquela triste tarde de primavera.
    O sol teimava em brilhar por entre às nuvens cinzentas daquela manhã, era o início do verão, e já poderia se sentir a elevação da temperatura, pois durante essa estação registra-se variações até mais de 30ºC, quando Brady despertou, havia um clima diferente na aconchegante enfermaria, não sabia explicar o que tinha motivado dentro si tamanha mudança, no entanto, alguma coisa no seu interior despertava para o futuro, só não sabia precisar o que realmente estava acontecendo.
   Já passavam das 16h, quando a porta se abriu e novamente ele pode vislumbrar toda exuberante beleza da Drª. Hanna, − Olá meu campeão! Espero que hoje esteja melhor? Seus olhares se encontraram e ele sentiu estremecer seu corpo. − Sim doutora estou me sentindo bem melhor. − Estava ansiosa para lhe visitar, queria saber como você estava. Que bom, pelo visto está ótimo se continuar nessa evolução, darei sua alta na próxima semana.
   Liam Brady, ao logo dos seus 35 anos, sentiu pela primeira vez seu coração palpitar desordenadamente, como se fosse uma arritmia, afinal o que seria isso? Que sentimento era este que de uma hora para outra tinha lhe devolvido a vontade de viver, por mais que procurasse descobrir o que estava acontecendo não conseguia, era algo que não tinha resposta.
     Finalmente, chegou o dia da sua liberação do hospital, Drª. Hanna Sánchez, estava mais linda do que nunca por baixo do jaleco branco trajava um vestido azul da cor do firmamento que deixava transparecer as curvas delineadas do seu belo corpo. – Senhor Brady, Está pronto para ir para casa? – Estou doutora, esperei ansioso por esse dia, agora ele chegou, sinceramente não sei como é a cara do mundo lá fora, mais uma coisa tenho certeza, vou começar tudo outra vez, e senhora ainda irá se lembrar de mim. Quero lhe agradecer por todo o seu empenho por me ter salvado. – Tem alguém que vem lhe apanhar. – Não, todos os meus familiares, meus pais, já partiram atendendo o chamamento do Senhor, eu moro sozinho, no centro da cidade. – Bem nesse caso vou providenciar o seu translado até à sua residência. Desejo-lhe toda à felicidade com a qual o Senhor tanto sonha, vou lhe dá o meu cartão com o meu número de telefone, se pôr a caso precisar é só me telefonar.
   Finalmente o veículo chegou à onde Brady, morava, ele agradeceu ao condutor e pegou o elevador. Qual não foi à sua surpresa ao adentra no apartamento, não era possível, toda a mobília havia sido trocada, a decoração do interior era algo fascinante, será que tinha entrado no edifício errado. Dirigiu-se para o quarto tudo era deslumbrante somente se convenceu quando abriu o guarda roupa e deu de cara com os seus pertences, não, não havia engano, aquela realmente era à sua casa, mas como poderia ter acontecido tudo isto, seus únicos parentes eram seus pais e eles tinham falecido.
   Entrou para o banheiro tomou um banho quente para relaxar e depois trocou de roupa, para sair, mas para onde iria? Havia perdido seus amigos, fazia tanto tempo que permaneceu hospitalizado que muita coisa tinha mudado. Estava neste dilema quando o seu telefone tocou, ficou atônito, ao atender a chamada, sentiu suas pernas fraquejarem e ele se deixou cair na aconchegante poltrona da sala de estar. A voz do outro lado da linha era doce e suave e que ele tão bem conhecia. – Liam Brady! – Sou eu! − sabe quem está falando? − Não tenho a menor ideia. − Tem certeza? − Sim, tenho. − Meu nome você já conhece eu sou Hanna Sánchez − doutora, é um prazer ouvi-la, outra vez, em que posso ajudá-la? − Se você não tiver nem um programa para esta noite, gostaria de convidá-lo para jantar! Liam, achou que ia desmaiar novamente quase que não conseguia articular uma só palavra, mas se refez rapidamente. − Será um grande satisfação Drª. Hanna. − Por favor Liam me trate só por Hanna. Combinado, então passarei às 21h para lhe apanhar.
    Brady, não sabia o que fazer, foi até ao seu closet e teve outra surpresa tudo ali era novo, mas quem teria feito tudo isto, quem? Escolheu a melhor roupa que lhe caia bem com muita dificuldade, pois todas eram de grife famosa. Precisamente na hora marcada o interfone da recepção o chama. – Senhor Liam, pois, não. − Aqui é o Charles, a Dr.ª Hanna lhe aguarda. – Grato, já estou indo. Entrou no elevador e desceu, ao chegar mais uma vez, passou mal, Hanna estava deslumbrante, vestia um vestido preto belíssimo, deixando amostra sua escultura corporal, que combinava perfeitamente com o seu colar de pérola. Liam não ficava atrás, vestia um suéter caramelo que realçava com sua calça cor de marfim, um 1,90 m de altura, cabelos louros, olhar tão azulado que pareciam os raios do luar daquela noite quente de verão. – Hanna também quase que não acreditava no que estava vendo, aquele não era o mesmo homem que um dia esteve entre a vida e morte em suas mãos. – Boa noite Hanna! – Boa noite! Brady. − Você está lindo! − Obrigado você está fascinante! – Grata pelo elogio. Ela tomou a iniciativa. − Vamos!
    Chegaram ao estacionamento e ela se dirigiu para o seu carro, um Rolls Royce Phantom Coupe, azul marinho, Liam abriu a porta para ela e se dirigiram para o luxuoso restaurante Buccchus Restaurant & Lounge. Pediram um Drink e Hanna tomou a iniciativa de falar. – Como está se sentindo? − Confuso, ainda não estou conseguindo entender certas coisas que estão acontecendo comigo. A começar pelo meu apartamento, não é o mesmo quando deixei na última noite que lá dormi, antes de mergulha num sono profundo e depois o convite que você me fez.
    − Brady, eu vou lhe explicar tudo, por partes, primeiro a transformação da sua moradia. Eu localizei o seu endereço no seu prontuário e pedi ao departamento social que fizessem uma visita à sua residência eles me trouxeram um relatório e depois pessoalmente estive no seu apartamento, Charles foi quem me auxiliou em tudo, o resto você já sabe. Segunda parte está talvez seja mais difícil para mim, uma vez, que meu comportamento vai de encontro ao regulamento do hospital, que nos proíbe de todo e qualquer envolvimento com os pacientes. Como não me envolver! Quando você deu entrada na urgência as chances de sobrevivência eram ínfimas e o caso foi passado para mim e eu e toda a minha equipe lutamos dia e noite para salva-lo e graças a Deus que conseguimos e agora Liam eu quero lhe confessar que estou apaixonada por você, talvez a convivência estreita que tivemos tenha contribuído para eclosão do sentimento que agora sinto. Liam não teve como evitar que a taça de champanhe estava em suas mãos caísse, ainda bem que estavam num ambiente reservado.
   − Hanna! Eu também me apaixonei perdidamente por você, não pergunte por que, eu não saberei responder. Você salvou à minha vida e me devolveu vontade e de viver, mas não é justo que eu estrague à sua. Sou um ex- dependente químico, pertencemos a classe sociais diferentes e eu não quero lhe causar nenhum mal, preciso lhe esquecer. − Brady, mas eu confio em você sei que é questão de tempo à sua recuperação perante a sociedade, quero que você saiba eu não vou desistir de você aconteça o que acontecer eu estarei sempre lhe esperando.
    O tempo passou rápido, já havam trasncorridos oito meses, Liam tinha sido readmitido na sua antiga editora, e cada vez mais se destacava no cenário cultural da cidade ao ponto de ser convidado para escrever um livro que seria publicado no final do ano e ele aceitou o desafio, seria a realização do seu grande sonho e começou a trabalhar na sua edição e escolheu como título “Minha autobiografia”. Ele tinha apenas três meses de prazo para à publicação e abraçou esta oportunidade como sendo à última de sua carreira.
     O livro foi um sucesso, o primeiro de uma série de vários que viriam depois, Liam Brady, foi um dos maiores escritores de sua época, recorde absoluto de vendas em toda a Europa. No entanto, pagou caro pela sua renúncia, nunca mais teve notícias da Drª Hanna Sánchez, ela havia sido transferida para outra unidade da rede hospitalar em Toronto, mesmo sendo um ícone da literatura europeia, jamais conseguiu reencontrar o seu grande amor.

 
NOTA DO AUTOR: Esta é uma obra de pura ficção qualquer semelhança é mera coincidência.
 
Autor – José Valdomiro Silva














 

JValdomiro
Enviado por JValdomiro em 24/08/2020
Alterado em 12/02/2024
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